domingo, 7 de dezembro de 2008

O PREÇO

Como custa ganhar o pão
Com o suor do rosto!
Quanto custa comprar o pão
Com o salário de agosto!

Feijão é artigo de luxo
Que bucho de pobre
Há muito não vê.

O arroz, pela hora da morte,
Entrou na lista do corte
Do próximo mês.

Carne nem pensar!
Beef só em dólar.
O boi subiu na bolsa,
Desequilibrou a balança
E o bolso do pobre
Não pode pagar.

Enquanto uns têm demais
É só fartura e abastança;
Ao pobre que trabalha
Só cabe a migalha
Que mal dá pra comer.

Um dia isso muda...
A esperança é a certeza
Que agosto precede a primavera
E outubro não tardará.

Excitango


Esse tango em descompasso
Excitando em cada passo
Esse tanto, excitando, esse tango
Esse laço, esse abraço, esse nó
No peito, no pé, na passada
Esse tombo, essa queda, caída
Esse corpo em meus braços
Entrelace de pernas
Essa taça, esse passo, essa taça
Esse passo, essa taça, esse passo
Esse tango, essa luz, meia-luz
Esse tanto, excitando, esse tango
O meu corpo, a cabeça girando
Essa taça, esse tango, essas pernas entrelaçam
Esse rosto, esses lábios, essa boca, esse beijo
Esse tango...

sábado, 12 de julho de 2008

VISÕES

Espalha no espelho
a imagem desmanchada,
despejada de mim.
Deságua da memória
a lucidez insana
que o tempo profana
e subverte a razão.

Esparrama e derrama
suores, odores, sabores, amores,
líquidos desejos que embaçam o cristal.
Arrebenta e parte em estilhaços
de beijos, bocas, braços, abraços.
Pedaços de amor em partes
entre pernas e pelos
no apelo da pele.
Delírios entrecortados
por espasmos de gozo
escorrendo entre os cacos
de sonhos desfeitos.

Aspecto disforme
do espectro no espelho
imagens amorfas
perdidas em mim.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Fresta

Pela fresta uma nesga
de luz
Sobre a resma uma rima
de adeus
A vista vesga embaça
de dor
A vestal veste a mortalha
do amor
Nada resta da réstia
da fresta.

domingo, 1 de junho de 2008

Pálidas manhãs

Manhãs invernais
Sonolento sol
Do solstício de agosto
Palidamente amarela
O amanhecer.

Pouso o cigarro
Pauso o pensamento
Pesa na memória
Os dias ensolarados
De um amor de verão.

Taciturna

Tácita,
Em taças noturnas,
Turvas e ácidas,
Traço o teu vulto
Que trago em goles secos
de cica.
Travor que trava na garganta
Um uivo, gemido, o grito de dor
Que estilhaça a taça
Que ainda a pouco era.

surreal

vidatintapintacores
somsombrasonosonho
odorsaborpelepelo
falocalocolobeijo
corpomassapesopesadelo
solsolstíciosolilóquiosolidãosó

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Álibi

No jardim
Velhas violetas velam
Veladas volúpias
Das vestais violadas,
Vorazes vivendo,
Vesperais
De amor.

Incertezas

O inesperado é a dose de emoção de cada dia.
Não busques o eterno se tudo é efêmero,
Se nada é pra sempre e a vida é um rio.
Não queiras reter o amanhã
Se te escapas o agora.
Não queiras sentir o perfume
Se a flor ainda é botão.
Se sabes que não sabes,
Se estás certo de tuas incertezas,
Então estás vivo.
Eis o desafio! Aceita-o!
Tudo mais é provisório,
Até o que acabo de escrever.

Essência e Aparência

O resto do restolho
Do velho olho vesgo
Retinto retido na retina
Reflete no vácuo da visão
As brumas do Real Absoluto
Vestígios de verdades relativas.